-Aproxima-se a hora do meu derradeiro testemunho! Sei, por antecipação, que todos vós estareis dispersados nesse instante supremo. É natural, porquanto ainda não estais preparados senão para aprender. Antes, porém, que eu parta, quero deixar-vos um novo mandamento, o de amar-vos uns aos outros como eu vos tenho amado; que sejais conhecidos como meus discípulos, não pela superioridade no mundo, pela demonstração de poderes espirituais, ou pelas vestes que envergueis na vida, mas pela revelação do amor com que vos amo, pela humildade que deverá ornar as vossas almas, pela boa disposição no sacrifício próprio.
Vendo que Jesus repetia uma vez mais aquelas recomendações de despedida, Pedro, dando expansão ao seu temperamento Irrequieto, adiantou-se, indagando:
-Afinal, Senhor, para onde ides?
O Mestre lhe lançou um olhar sereno, fazendo-lhe sentir o interesse que lhe causava a sua curiosidade e redargüiu:
-Ainda não te encontras preparado para seguir-me. O testemunho é de sacrifício e de extrema abnegação
a somente mais tarde entrarás na posse da fortaleza indíspensável.
Símão, no entanto, desejando provar por palavras aos companheiros o valor da sua dedicação, acrescentou, com certa ênfase, ao propósito de se impor à confiança do
Messias:
-Não posso seguir-vos? Acaso, Mestre, podereis duvidar de minha coragem? Então, não sou um homem? Por vós darei a minha própria vida.
O Cristo sorriu e ponderou:
-Pedro, a tua inquietação se faz credora de novos ensinamentos. A experiência te ensinará melhores conclusões, porque, em verdade, te afirmo que esta noite o galo não cantará sem que me tenhas negado por três vezes.
-Julgai-me, então, um espírito mau e endurecido a esse ponto? indagou o pescador, sentindo-se ofendido
-Não, Pedro, adiantou o Mestre, com doçura —, não te suponho ingrato ou indiferente aos meus ensinos. Mas vais aprender, ainda hoje, que o homem do mundo é mais frágil do que perverso.
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